Rafael van der Vaart: 1º Golden Boy
| |Rafael van der Vaart – Desde 2003 o prêmio “Golden Boy” presenteia jovens jogadores com enorme potencial para se tornarem craques em suas carreiras.
Criado pelo jornal italiano Tuttosport, a honraria também conta com votos de jornalistas de renomados veículos pela Europa como Bild (Alemanha), A Bola (Portugal), l’Équipe (França), France Football (França), Marca (Espanha), Mundo Deportivo (Espanha), De Telegraaf (Países Baixos), e o The Times (Reino Unido).
Cada jurado indica 5 atletas sendo 10 pontos para qual ele achar mais promissor, 7 para o segundo, 3 para o terceiro, 2 para o quarto e 1 para o quinto. Para ser elegível para a votação, o jogador precisa ter menos de 21 anos de idade e estar jogando em uma das principais ligas europeias.
Vamos falar sobre Rafael van der Vaart, o primeiro Golden Boy que também foi o que se aposentou primeiro. Vamos colocar uma lupa e fazer um raio X na carreira desse craque nascido em Heemskerk, cerca de 30 km da capital Amsterdam, no dia 11 de fevereiro de 1983.
Rafael van der Vaart: 1º Golden Boy
Desde que surgiu no time profissional do Ajax, aos 17 anos, Rafael Ferdinand van der Vaart sempre foi considerado o futuro do clube de Amsterdam e da seleção holandesa, empilhando prêmios de revelação de outras entidades.
Meia habilidoso que sempre afirmou se inspirar no brasileiro Romário, carregou o peso de ser comparado a Johan Cruyff . Com a camisa branca e vermelha conquistou entre 2001 e 2004 dois títulos holandeses, uma copa da Holanda e uma supercopa. Em torneios europeus chegou a fazer um gol decisivo que levou o time às oitavas de final da UEFA Champions League.

Porém nem tudo foram flores, já que ele perdeu muitas partidas parado por conta de duas lesões no joelho que, inclusive, o obrigaram a retirar o menisco e ainda sofreu muitas críticas pelo seu estilo de vida de celebridade.
Em termos de relação de grupo também se envolveu em polêmicas. Nomeado capitão e fazendo uma boa temporada 04/05, ele foi lesionado em uma partida entre Holanda e Suécia pelo seu então companheiro de time, Zlatan Ibrahimovic, o que azedou o clima no vestiário, sendo até um dos motivos da venda do sueco para a Juventus 2 semanas depois, já que a mídia e torcedores afirmavam que Zlatan o teria machucado de propósito. Em entrevista ao site FourFourTwo, que será salpicada ao longo da matéria, RVD confirmou o que todos desconfiavam na época.

Sobre Ibrahimovic ter tentado quebrar sua perna: ” Sim, ele falou isso, mas o Zlatan falou isso para todos. Também é verdade que naquele tempo as coisas não estavam bem entre nós, mas eu prefiro estar em um time com pessoas que sejam honestas, como ele, mesmo que não haja muitos argumentos. Mas não houve um momento específico que nos desentendemos, no geral não nos dávamos bem.”

Com a saída de Ibra, Rafael foi movido para o ataque, o que o deixou insatisfeito por jogar fora da sua posição original, o levando a se recusar a jogar uma partida da Champions League, fazendo assim com que o técnico Ronald Koeman tirasse a sua braçadeira de capitão. Todos esses fatores o levaram a deixar o Ajax, em 2005, e o que se esperava é que mesmo com os problemas de lesão e polêmicas, ele iria para um clube grande de uma liga rica. Inclusive, o meia chegou a ser dado como certo no Milan, mas todos foram pegos de surpresa quando foi anunciada a sua ida para o Hamburgo.
Johan Cruyff chegou a escrever na sua coluna no jornal De Telegraaf : ” Eu não sei dizer o que Rafael van der Vaart está fazendo em Hamburgo”.

Rafael van der Vaart na Euro 2004
Durante esse período foi convocado para a seleção principal da Holanda pela primeira vez, em 2001, aos 18 anos e estava no grupo que chegou às semifinais da Euro de 2004, em Portugal. Foi titular no 1×1 contra a Alemanha na estreia, mas perdeu a posição durante a competição, tendo jogado poucos minutos contra a República Checa e o segundo tempo do jogo da eliminação frente aos portugueses comandados por Felipão. Na época era duro ter um lugar na equipe de Dick Advocaat que contava com Edgar Davids e Clarence Seerdorf no meio campo.

O atleta desembarcou na Alemanha em junho de 2005. O Hamburgo pagou 5,5 milhões de Euros para contar com o holandês que ajudou muito o time a manter uma forma invicta fora de casa, conquistar a extinta Copa Intertoto e a 3ª colocação na Bundesliga. Rafa ainda foi o artilheiro do HSV na temporada 05/06. O futuro ainda parecia brilhante para o jovem meia que na temporada seguinte receberia a braçadeira de capitão.

Rafael van der Vaart na Copa de 2006
Porém, antes disso houve a Copa de 2006, na Alemanha, onde a Oranje caiu no chamado grupo da morte ao lado de Argentina, Costa do Marfim e da então seleção de Sérvia e Montenegro. Vestindo a camisa 10, RDV jogou 30 minutos vindo do banco na vitória contra os africanos no segundo jogo e foi titular no duríssimo embate frente os hermanos que terminou 0x0. Ele esteve em campo vindo do banco, novamente, na eliminação para Portugal nas oitavas de final. Essa partida ficou conhecida como a Batalha de Nuremberg, por ter sido o jogo mais violento da história das copas, com 16 cartões amarelos e 4 vermelhos. O meia levou o amarelinho dele aos 29 da segunda etapa.

A temporada 06/07 não foi boa. Seu time foi eliminado na fase de grupos da Champions League e ficou a maior parte da campanha no meio da tabela. O atleta também voltou a sofrer com lesões na temporada que só não foi totalmente ruim, pois com a chegada do seu compatriota Huub Stevens para comandar a equipe, os Die Rothosen terminaram em 7º, beliscando uma vaga na Intertoto.
Mesmo com o interesse do Real Madrid, van der Vaart afirmou que ficaria por mais um ano na Alemanha, dizendo que naquele momento sentia que o clube tinha um grupo para vislumbrar algo. E, de fato, foi uma boa temporada, com o jogador terminando com 12 gols e levando o Hamburgo a uma vaga na Champions League, finalizando em 4º na Bundesliga. E poderia ter feito mais já que ficou um bom tempo parado devido a um rompimento dos ligamentos do tornozelo em uma partida da Copa da UEFA.
O holandês chegou a ser novamente ligado a vários clubes importantes como Juventus e Atlético de Madrid, esse último chegou a fazer uma proposta oficial de 15 milhões de Euros ao Hamburgo, que foi rejeitada. No final das contas ele foi para a mesma cidade, mas para um clube maior, o Real Madrid que o comprou pelo mesmo valor que o Atleti ofereceu. Provavelmente, a voz do jogador se fez mais forte já que ele havia declarado meses antes que não sairia da Alemanha para um time de um mesmo nível.
Euro 2008
Porém, antes de estrear pelo clube espanhol veio a Euro 2008, sediada na Áustria e na Suíça. De novo, os neerlandeses caíram em um grupo mortal, ao lado de Itália, França e Romênia e, individualmente falando, foi o melhor momento do atleta com a sua seleção. Ele foi titular nas duas vitórias memoráveis frente italianos e franceses, 3×0 e 4×1, respectivamente.
Os dois primeiros gols com a azurra tiveram as jogadas nascidas da sua canhota. Um cruzamento rebatido por Buffon no primeiro e um lançamento rápido para o contra-ataque no segundo. Contra os Bleus um escanteio, que mais parecia uma assistência, cobrado por Rafa foi certeiro na cabeça de Dirk Kuy para tirar o zero do placar e dar início ao baile. Poupado na vitória contra os romenos, voltou ao time titular nas quartas de final para enfrentar a Rússia, onde os laranjas foram batidos na prorrogação, com atuação mediana de RDV.

Quando perguntado sobre seu melhor momento na seleção, ele não tem dúvidas: ” A fase de grupos da Euro 2008 contra Itália e França. Foi puro prazer estar no campo nesses dois jogos. Eu poderia jogar por seis horas e não ficaria cansado. Ambas Euro 2008 e a Copa de 2010 foram brilhantes de se fazer parte. Em 2008, nós estávamos todos pensando: “Wow, nós somos muito bons” , mas não era como se esperássemos ganhar o torneio. Em 2010, foi mais ou menos o oposto. Nós sentíamos como “Nós não jogamos tão brilhantemente, mas ninguém irá nos ganhar”. Esse é provavelmente o melhor sentimento que você pode ter como time durante um grande torneio.”

O meia assinou um contrato de 5 anos com os merengues e teve uma boa primeira época em Madrid, marcando gol na estreia e sendo nomeado para a Bola de Ouro da France football naquele ano, porém no final da temporada, RDV era usado como substituto de luxo pelo técnico Juande Ramos e até então o jogador negava qualquer tipo de insatisfação ou que sairia do clube.

Com a limpa de holandeses feita pelo Real para 09/10, dentre eles Sneijder, Robben e Huntelaar se esperava que o atleta também fosse na barca laranja, mas acabou ficando e sendo importante para o time. Quando Kaká se machucou, o neerlandês conseguiu suprir a ausência do brasileiro com boas atuações e gols decisivos para a campanha dos blancos. Apesar disso tudo, e afirmando que tinha intenção de continuar no clube, essa foi sua última temporada vestindo a camisa branca. Aliás ele até manteria a cor do uniforme, mas em outro time.
Copa de 2010
No meio dessa transferência veio a Copa do mundo da África, em 2010, onde a Holanda igualou 74 e 78 e conseguiu chegar até a final. RDV foi titular nas 3 vitórias da primeira fase frente Dinamarca, Japão e Camarões. Na partida contra os africanos, foram emoções divididas: primeiro uma tabelinha linda que acabou em uma assistência para o gol de Van Persie, abrindo o placar e depois o penalty que ele concedeu quando levantou demais o braço e encostou a mão na bola, após um tiro livre.
No mata-mata perdeu a posição e nem sequer entrou em campo nas vitórias contra a Eslováquia, nas oitavas, e Brasil, nas quartas. Veio do banco na semi, frente ao Uruguai e jogou bem, quase marcando um gol, batendo forte com a sua canhota, o que fez com que Muslera operasse um verdadeiro milagre, além de participar da jogada que resultou no segundo gol da Oranje na partida.
Na final perdida para a Espanha, apareceu em momentos decisivos após entrar no primeiro tempo da prorrogação, se tornando capitão após a saída de Giovanni van Bronckhorst. RDV foi quem deu o primeiro combate na frente após Elia perder a bola, dando o contra-ataque aos espanhóis e correu até a defesa para tentar bloquear sem sucesso o gol de Iniesta, primeiro rebatendo uma bola enfiada e segundo tentando bloquear o chute. A história dele e da Holanda poderia ter sido diferente, caso ele tivesse êxito em algumas das ocasiões.

Ida para o Tottenham “no susto”
A história da ida do meia para o Tottenham foi realmente um caso à parte. Basicamente, os servidores “deram pau” e com isso houve muita dificuldade para todas as tratativas, fazendo com que a transação fosse concluída quando a janela já estava fechada. Após investigações, a Premier League aprovou a transferência. Questionado, o treinador Harry Redknapp disse que só ficou sabendo da disponibilidade do atleta cerca de 2 horas antes da janela fechar. Aí é que entra a parte mais engraçada, contada pelo próprio RDV.

“Foi realmente na última hora, José Mourinho foi muito honesto sobre minhas chances no Real Madrid, me dizendo que eles haviam comprado o Özil para jogar na minha posição. Ele disse que eu poderia ficar, mas que eu não seria titular. Até então, eu ainda estava disposto a ficar no Real por mais uma temporada e assim fui me apresentar para a seleção Holandesa.
“Mas, por volta das 16h no último dia da janela de transferências, meu advogado me ligou dizendo que o Spurs estava interessado em me contratar. Eu perguntei se podia pensar sobre. Ele me respondeu dizendo que eu tinha que decidir em duas horas! Eu comecei a avaliar tudo, então tirei uma pequena soneca. De repente, eu fui acordado pelo celular tocando. Era por volta de 17:40 e meu advogado estava me ligando de novo dizendo que eu tinha que me decidir naquele momento, então eu disse: “Sim, vamos lá!” Eu não tive tempo para mudar de ideia ou conversar isso com ninguém, foi pura intuição.”
Já com 27 anos, sem nenhum título de expressão na carreira e saindo do Real Madrid para o Tottenham, ficou evidente que era um momento de baixa, e vale salientar que o time de Londres, em 2010, era mais fraco do que o de dias atuais. A boa notícia era que ele ainda estava na vitrine e boas atuações em um time de Premier League que disputaria a Champions daquele ano poderiam levantar a sua carreira.
Boa fase em Londres
Os 10,5 milhões de euros pagos por ele se mostrou logo de cara um ótimo investimento. van de Vaart começou muito bem com gols e assistências, tanto no campeonato inglês como na Champions League. Inclusive foi eleito o melhor jogador do mês de outubro da Inglaterra. Após uma nova lesão muscular, voltou em dezembro marcando gols. Em abril, caiu nas graças da torcida após marcar 2 gols no arquirrival Arsenal em um empate de 3-3, no White Hart Lane.

O meia terminou a temporada 10/11 como artilheiro do time com 13 gols e com o maior número de assistências, 9, o que ajudou os Spurs a se classificarem para a Liga Europa. Isso poderia ser bom para o clube, mas para quem era visto como futura estrela do futebol mundial isso era pouco, bem pouco. E após altos e baixos, mesmo afirmando novamente que não gostaria de sair do clube, mais um treinador português iria mudar o rumo da carreira de RDV, como ele mesmo declarou.
“Andre Villas-Boas não era o treinador ideal para mim. Ele contratou o Sigurdsson e então me disse que ele seria o novo camisa 10. Eu achei um pouco estranho considerando o que eu havia conquistado nos dois últimos anos. Eu comecei a primeira partida da temporada no banco de reservas, então, quando o Hamburgo me contactou, eu pensei que era uma ótima oportunidade. Mas eu não teria deixado o Tottenham, embora seja fácil falar isso olhando para trás. Eu tive alguns momentos brilhantes na minha segunda passagem em Hamburgo, mas o fato de estarmos no playoff contra o rebaixamento nas segunda e terceira temporadas não foi bom. Deixar o Tottenham não foi a melhor escolha, mas tirando isso eu não tenho muitos grandes arrependimentos durante a minha carreira”.
Euro 2012
No meio de mais essa decepção, Rafa foi convocado para defender seu país na Euro de 2012. Aos 29 anos essa foi a última competição de seleções que participou em sua carreira e para variar lá estavam os holandeses em um grupo carne de pescoço: Alemanha, Portugal e Dinamarca. O desempenho da Laranja foi péssimo, três derrotas e uma eliminação precoce para quem chegou à final do mundial anterior.
RDV começou na reserva nas duas primeiras partidas e apesar da catástrofe, além de titular e capitão, ele marcou um belo gol com um chute lindo de fora da área contra Portugal, pena para ele que Cristiano Ronaldo virou para os gajos. Esse foi o seu primeiro e último gol pela Holanda em competições oficiais. Ele até chegou a integrar convocação prévia de 30 jogadores para a Copa do Brasil, em 2014, mas acabou sendo cortado três dias antes da lista final ser divulgada, em virtude de uma lesão na panturrilha durante um treinamento.


Depois da Euro, sua segunda passagem em terras germânicas foi de um “brilhareco” aqui outro ali, luta para não ir para a segunda divisão e de novo uma grave lesão que o deixou fora por meses. Não é exagero dizer que o período de alto nível da carreira do meia havia chegado ao fim, pois um jogador com altas expectativas que chegou a valer 15 milhões de euros, agora via o Hamburgo não renovar o seu contrato deixando ele sem clube, aos 32 anos.
Últimos suspiros no futebol
van der Vaart retornou à Espanha para assinar com o recém promovido à primeira divisão, Real Bétis, e o único destaque da sua passagem pela Andaluzia foi mesmo a sua apresentação junto com a sua avó, onde pareceu até estar um pouco constrangido. Sobre estar envergonhado: ” De jeito nenhum, foi ótimo que ela pudesse estar lá. Meus avós maternos são espanhóis e vivem não muito longe de Sevilla, então eles vieram para ver minha apresentação, assim como fizeram no Real Madrid também”.

Foi apenas uma temporada, 7 partidas oficiais e nenhum gol e quando já parecia quase aposentado, ele ainda espremeu mais um pouco a laranja e partiu para uma aventura sem brilho na Dinamarca, onde jogou primeiro pelo FC Midtjylland e depois pelo Esbjerg fB, esse último para ficar perto da esposa Estavana Polman, que é jogadora da equipe de Handball. Além do seu filho do primeiro casamento, Damián Rafael, o agora ex-atleta também teve uma menina chamada Jesslynn com a sua companheira atual.

Rafael Ferdinand van der Vaart, realmente não pode reclamar da carreira que teve. Aproveitou o talento inato que tinha, foi campeão e capitão de um dos times mais icônicos do mundo, teve a honra de vestir uma camisa merengue pesadíssima e representou seu país com orgulho e profissionalismo, conseguiu desviar das polêmicas e lesões ao longo da sua jornada. Hoje, Rafa pode olhar para trás e se orgulhar de ter dado 100% de si em campo. Às vezes nem sempre os melhores são aqueles que enfileiram taças, sejam elas individuais ou coletivas. Às vezes vencer é respeitar o futebol, o jogo bem jogado e, perdendo ou ganhando, sorrindo ou chorando, foram 18 anos de carreira voltados, acima de tudo, para a bola e isso sem dúvida ele tinha.
Rafael Ferdinand van der Vaart não esteve no futebol apenas de passagem.

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